O papel do seguro na redução da desigualdade de renda: reformulando o contrato social

Nossas pesquisas constatam que a desigualdade de renda dentro dos países é um fator negativo para a estabilidade social, crescimento econômico e mercados financeiros. É também prejudicial para a maior parte do mercado de seguros, levando a uma penetração geral menor do serviço e a uma redução da proteção dos lares.

A desigualdade de renda nas economias avançadas vem aumentando há 40 anos. Isto é medido pelo coeficiente de Gini, que mostra a distribuição de renda entre a população, e é a estatística mais comum utilizada para descrever a desigualdade.  A desigualdade nas economias emergentes é, em geral, maior do que nos mercados já desenvolvidos, mas está em declínio. Um fator-chave é a globalização que, desde os anos 90, expandiu a classe média em economias como o Brasil e a China, no ritmo mais rápido já visto. Em contraste, a classe média norte americana diminuiu de quase 60% da população nos anos 80 para menos de 55% em 2018. 

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Em termos de consequência imediata, os eventos de impacto econômico tendem a afetar desproporcionalmente as famílias de baixa renda e extrema pobreza. Isto está acontecendo atualmente, enquanto a guerra na Ucrânia impulsiona a atual crise no custo de vida ao aumentar ainda mais os preços da energia e dos alimentos. Globalmente, 276 milhões de pessoas enfrentam uma profunda insegurança alimentar, mais que o dobro do número em 2019, afirma  "World Food Programme".

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A grande desigualdade também tem consequências econômicas negativas: ela afeta a produtividade e a demanda agregada, reduzindo assim o crescimento. Corrói a confiança nas instituições e também pode provocar instabilidade social. Olhando para o futuro, observamos tendências estruturais como a desglobalização, digitalização e mudança climática moldando a desigualdade a longo prazo. Também esperamos que o "S" em ESG, para questões sociais, desempenhe um papel maior nas decisões de investimento no futuro.

O seguro é uma ferramenta poderosa para promover o crescimento econômico, melhorar a resiliência e reduzir a desigualdade. Sem a proteção do seguro, as famílias de baixa e até de média renda podem cair na pobreza no caso de um desastre grave. Ao afastar os riscos financeiros dos indivíduos e aumentar sua resiliência, os setores público e privado podem trabalhar para reduzir a desigualdade.
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Jérôme Jean Haegeli, Group Chief Economist, Swiss Re

A desigualdade tem um impacto significativo na demanda de seguros. Em economias desenvolvidas que se tornaram mais desiguais desde os anos 90, não houve quase nenhum crescimento na entrada de seguros. Observamos que nesses casos, a proteção dos seguros domésticos teria sido cerca de 252 bilhões de dólares mais alta do que a atual em 2019 se a igualdade tivesse permanecido nos níveis de 1990. Colocando isto no contexto das lacunas de proteção, estimamos que o aumento da desigualdade nas economias desenvolvidas desde 1990 ampliou a lacuna de proteção contra catástrofes naturais em cerca de 2,5% em 2019. Isto sugere que um valor extra de 1,7 trilhão de dólares poderia ter sido coberto contra os perigos naturais, se a desigualdade não tivesse aumentado. Estima-se que a lacuna de proteção à mortalidade das economias desenvolvidas seja 8% maior, equivalente a 5,4 trilhões de dólares em montantes garantidos a partir de 2019.

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A redução da desigualdade pode fortalecer o contrato social e apoiar a confiança pública nas instituições. A curto prazo, os governos precisam considerar políticas adaptadas para aliviar a atual crise do custo de vida que muitas famílias enfrentam. A longo prazo, cabe aos setores públicos e privados tomarem medidas para combater a desigualdade. Os governos devem adotar uma combinação de políticas que distribua as oportunidades econômicas e os resultados de forma mais igualitária. Os órgãos políticos também devem utilizar mecanismos de transferência de riscos para distribuir os riscos às rendas de forma mais justa, tais como sistemas de previdência social, transferências para melhorar a proteção dos indivíduos de baixa renda, ou parcerias público-privadas (PPPs) para expandir a segurabilidade.

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O seguro privado também desempenha um papel, ao impulsionar a inovação para alcançar comunidades menos protegidas. No atual ambiente de alta inflação, o projeto de desenvolvimento de produtos e o suporte de apólices que apóiam a acessibilidade das coberturas de seguro são de grande importância. O seguro agrícola é uma ferramenta chave para mitigar a elevada ameaça da insegurança alimentar. Nossas descobertas sugerem que se as mudanças de apólices estimularem uma diminuição gradual no coeficiente de Gini em um ponto durante a próxima década, isto poderia acrescentar uma demanda de seguro adicional acumulada de 700 bilhões de dólares em economias avançadas.

 

[Página traduzida livremente para o português, para o artigo original, por favor acesse: sigma 03/2022 - insurance and its role in reducing income inequality (swissre.com)]

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[Em inglês] Reformulando o contrato social: o papel do seguro na redução da desigualdade de renda

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